Em 22 de Novembro de 1766 Antonio Correa Pinto chega aos campos de Lages com a incumbência formal de iniciar uma póvoa que em 22/05/1771 seria elevada a Vila.
Comemorando o aniversário de 247 anos desta efeméride iniciamos hoje a postagem de uma série de artigos com informações biográficas e genealógicas sobre o Capitão Mor fundador da Vila de Lages e seus familiares.
Biografia e História Familiar - Parte I.
Antônio Correa Pinto nasceu aos 12/06/1719 em São Tomé da Correlhã, Termo da Vila de Ponte de Lima, Arcebispado Braga, Portugal, onde foi batizado no dia 17/06/1719. Filho legítimo de Luiz Correa Pinto natural da Freguesia de Faldejães, Arcozelo, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Arcebispado de Braga, Portugal e de Antônia de Souza de Macedo natural da Freguesia de Eiras, termo da Vila de Arcos de Valdevez, Arcebispado Braga, Portugal. Neto paterno de Manoel Antunes e Antonia Correia e por esta bisneto do Padre Belchior Correia e de Maria Pereira. Neto materno do Padre Antonio de Macedo e de Maria Fernandes. [1]
A família de Luiz Correa Pinto e Antônia de Souza de Macedo inicialmente viveu em São Tomé da Correlhã e posteriormente mudou para Santa Marinha de Arcozelo, Ponte de Lima, Arcebispado Braga, Portugal.
Por volta do ano de 1733 Antonio Correa Pinto, contando cerca de 13 anos de idade, partiu de São Thomé da Correlhã onde nasceu, indo para Cidade de Lisboa e dali para a cidade do Rio de Janeiro no Brasil onde viveu em companhia de um tio durante 10 a 12 meses, residindo na Rua dos Pescadores, Freguesia da Candelária.
Em torno de 1738, pelos 19 anos de idade, dirigiu-se a São Paulo e dali partiu para a Vila de Santos, São Paulo, lá permanecendo apenas 3 meses, e de onde “embarcou” para “as Campanhas do Rio Grande de São Pedro” para onde teria ido na companhia de Carlos Gonçalves.
Durante os 18 anos seguintes, aproximadamente entre 1738 e 1759, Antonio Correa Pinto viveu na Freguesia de Rio Grande de São Pedro de onde fez 3 viagens até São Paulo para tratar de seus “negócios de tropas” não tendo se demorado por mais de que 6 meses em cada viagem. Também neste período andou durante 2 anos “pelas “Indias de Espanha”, tratando de seus “negócios de animais” e sem permanecer em freguesia alguma “por serem campinas e terras de Gentio”.
No Rio Grande de São Pedro, entre os anos de 1747 a 1750, o paulistano Bento Correa, exercendo atividade de “cocheiro”, trabalhara para Antonio Correa Pinto. Luis Lopes Coutinho, carioca, cantor, declarou que por volta de1751 reencontrou Antonio Correa Pinto no Rio Grande e que este lá estava estabelecido com negocio de “Loja”. Por depoimento do açoriano Jose de Souza, capataz de tropa, sabe-se que por algum tempo Antonio Correia Pinto também residiu (foi assistente) na Vila de Laguna, Santa Catarina, sem ter declarado datas precisas.
A mais antiga referência - que logramos localizar até o presente - da presença de Antonio Correia Pinto (então já conhecido como sertanista) na região dos Campos de Lages é atestada em 1748 quando foi testemunha do termo de divisão da Vila do Rio Grande com a comarca de Curitiba "pela Fazenda velha do defunto Carvalho nos sobreditos campos das Lages" [2]. Em 1766, antes mesmo do início da póvoa em Lages, o Capitão-mor já possuía uma fazenda, com 3 pessoas, em Vacaria e uma fazenda, com 10 pessoas, em Lages.
Depoimento de Antonio Correa Pinto em 09/07/1759 (fls 20 a 21):
Constam as assinaturas: Antonio Correa Pinto , Vaz.
Testemunha1 (fls 21v a 22): Antonio Jose de Araujo - “Antonio Jose de Araujo natural de Santa Marinha Termo de Ponte de Lima Arcebisbado de Braga que vive de Andar (sic) no Caminho de Santos, de idade que disse ser de trinta e dous anos, tendo jurado aos Santos Evangelhos disse que o Conhesse tao somente desta Cidade a Seis meses e para esta ouviu dizer viera do Rio Grande, e tao bem ouviu dizer a ele justificante que ele viera para esta America de poucos anos sendo ainda rapaz, e ouviu dizer a Domingos Fernandes que o justificante era de Ponte de Lima, e ao mesmo justificante também ouviu dizer que era solteiro , livre e desimpedido, e mais náo disse nem do Costume e Se assinou depois de lido o seu Juramento (...)”.
Testemunha 2 (fls 22): Bento Correa - “Bento Correa natural da Villa de Guaratingueta homem solteiro e morador no Arraial dos Carijos das Minas Gerais e agora de passagem nesta cidade que vive de "handes"(sic) com tropas, de idade que disse ser de vinte e sete annos incompletos , tendo Jurado aos Santos Evangelhos declarou que conhecia o justificante a honze anos pouco mais ou menos por ter sido seu Couxeyro (sic) quatro anos em o Rio Grande de São Pedro, em cuja povoação he solteiro livre e desimpedido e por Carta que viu da terra do justificante dos seus parentes dos quaes colheu nao ter impedimentos na sua terra, e ouviu dizer a Francisco da Motta que o justificante seria de poucos annos fora com elle [ ....] ouro e Prata e fora com Carlos Gonçalves para o Rio Grande em o qual andou sempre "daqui para ali", hindo aos Castelhanos em cujas viagem gastaria dous anos, e tem andado por povoado hindo ao Rio de Janeiro e a esta Cidade , e que a maior assistencia tem sido no Rio Grande e nunca ouviu dizer que tivesse impedimento e mais nao disse nem do Costume e se Asignou depois de lhe ser lido o seu Juramento (...)”.
Testemunha 4 (fls 22 v): Luis Lopes Coutinho - Aos 13/07/1759 , Cidade de Sao Paulo, na Residencia do Vigario Geral, Juiz de Casamentos. “Luis Lopes Coutinho, natural da Cidade do Rio de Janeiro, homem solteiro, morador por hora nesta Cidade, que vive de "Cantar" (sic) de idade que disse ser de trinta e seis anos, tendo jurado aos Santos Evangelhos, declarou que haveraó vinte anos pouco mais ou menos que...[uma linha ilegivel] que conheceo ao justificante na Cidade do Rio de Janeiro sendo elle testemunha estudante e que neste tempo mostrava ter elle o justificante ter de idade treze annos pouco mais ou menos e assistir em casa de um seu tio morador na Rua dos Pescadores que o governava, o que sabe pelo ver, e conhecer o justificante pela razao de muitas vezes ir a caza de um Cabeleyreiro que morava de fonte da Porta do mesmo Justificante, e haveráo oito anos mais ou menos hindo elle testemunha ao Rio Grande la achou ao justificante com sua Loja na qual freguezia se nao faltava que o Justificante tivesse impedimento, antes sempre se tractou por solteiro livre e desimpedido , de cuja freguezia saiu o justificante ficando ainda nella elle testemunha, e pela Paschoa passada o achou elle testemunha nesta Cidade, e nao sabia mais porque terras havia andado, mas sabe pelo que tem deposto e por ver huma carta dos pais do Justificante e por conversas que com elle tem tido que he solteiro tanto em Portugal quanto nesta Aamerica e mais nao disse (...)”.
Contraentes: Antonio Correa Pinto natural e batizado na Matriz de São Thome de Corrilham (sic) termo da Vila de Ponte de Lima, Arcebispado de Braga, filho legitimo de Luis Correa Pinto e de sua mulher Antonia de Souza de Macedo moradores de Santa Marinha de Arcuzello (sic) da dita Vila de Ponte de Lima, Com Maria Benta de Oliveira filha legitima de Balthazar Rodrigues Fam, já defunto e de Izabel da Rocha do Canto moradores da Vila de Santana de Parnaiba, e o contrahente assistente na Cidade de São Paulo.
Antonio Correa Pinto (sic) casou em 26/07/1759 em Santana da Parnaiba, Província de São Paulo, com Maria Benta de Oliveira nascida em Santana da Parnaiba onde foi batizada em 28/03/1743 (fls 147v) [4] filha do Alferes Balthazar Rodriques Fam (o moço) nascido em Sampaio de Fão, Espozende, Portugal e de sua mulher Izabel da Rocha do Canto natural de Santana de Parnaiba, São Paulo, neta paterna de Balthazar Rodrigues Fam (o Velho) e de Maria Francisca Bento, neta materna de Pedro da Rocha do Canto natural de São Gens, Arcebispado de Braga, Portugal, e de sua mulher Archangela de Oliveira natural de Santana da Parnaiba.
"Antonio Correa Pinto//
Com Maria Benta//
Aos vinte e Seis dias do mes de julho de mil Sette cen//
tos cincoenta e nove annos nesta Igreja Matriz de Santa Anna da Villa//
da Parnahiba, pelas nove horas da manhã pouco mais, ou menos precedi-//
da provisam do Reverendo Senhor Doutor Vigario geral, Se recebeu //
por palavras de presente em minha presença na forma do Sagra//
do Concil. (sic) Trident. ,(sic) e Constit., Antonio Correa Pinto, natural e bau-//
tizado na Matriz da Freguezia de Santo Thome de Corrilam, termo //
da Villa de Ponte de Lima, e Arcebispado de Braga, filho legitimo //
de Luis Correa Pinto natural, e bautizado na Freguesia de Fal //
de Gens do ditto Arcebispado de Braga, e de Antonia de Souza//
de Macedo, natural, e bautizada na Freguezia de Eyras, termo //
da Villa dos Arcos do mesmo Bispado, netto paterno de Ma//
noel Antunes, cuja naturalidade náo soube dizer, o ditto Co-(sic)//
trahente, como també (sic) dos nomes Sobre nomes , e naturalida//
des, de Sua avô paterna, e dos maternos por vir da Sua //
Patria de menor idade, como justificou, e Maria Ben-//
ta de Oliveira, natural, e bautizada nesta freguezia da//
Pernaiba (sic), filha Legitima de Balthazar Rodrigues Fam//
natural, e bautizado em freguezia de Sam Pays , Arce//
bispado de Braga , e de Izabel da Rocha do Canto, natural//
e bautizada nesta freguezia de Parnahiba, netta paterna//
de Balthazar Rodrigues, e de Sua mulher Maria benta, ambos//
naturaes, e bautizados na freguesia de Sam Payo de Fam do dito Ar//
cebispado, e netta materna de Pedro da Rocha do Canto , natural, e //
bautizadoem a freguezia de Sam Gens do mesmo Arcebispado, e de Ar//
cangela de Oliveyra, natural, e bautizada nesta freguezia, onde he//
moradora a Contrahente, e o Contrahente da Cidade de Sam Paulo,//
e ambos os contrahentes Se receberáo com licença minha e nao em //
minha prezença, mas na prezença do Muyto Reverendo Doutor Vi//
gario geral Manoel Joze Vaz, o Muyto Reverendo Doutor Arcipres-//
te Paulo de Souza Rocha, Thomazia da Rocha Souza, mulher de //
Manoel Mendes da Costa da freguezia da Sé da Cidade de Sam Pau-//
lo, e Anna Rodrigues de Oliveyra, mulher de Lourenço Cardozo de Mel//
Lo desta freguezia. E logo no mesmo dia, mes, e anno atras declara//
do administrou o Sobredito Reverendo Padre aos dittos Conthaentes//
as bençoens nupciaes, que a Igreja determina, de que faço este Assen//
to, em que me assigno com as duas testemunhas abayxo assinadas. Dia//
mes, e anno, ut Supra, e o ditto Reverendo Padre Joseppe de Abreu (sic) //
O Vigr.o Manoel Mendes de Almeyda".
Constam as assinaturas de: Paulo de Souza Rocha, Manoel Joseph Vaz,
e de Polycarpo Manoel Nogr.a.
Do casal Antonio Correa Pinto e Maria Benta de Oliveira não houve descendência.
O Capitão-mor Regente Antonio Correa Pinto faleceu em 28/09/1783 na Vila de Lages. Foi conduzido solenemente de sua casa até a “Igreja Matriz da Senhora dos Prazeres de Lages” onde foi sepultado em 29/09/1783 “acima do arco ao pé dos degraus do Presibiterio”. Deixou testamento lavrado em Lages aos 07/08/1783 (LO1, fls 16V a 17v), no qual declara sua naturalidade, filiação, estado civil e não possuir filhos; professa a fé Católica Romana; dispõe suas últimas vontades em relação a seu funeral; deixa sua mulher por herdeira e testamenteira enquanto a mesma não voltasse a se casar. Em seu testamento determinou que caso a esposa casasse novamente ( o que veio a ocorrer) a parte que coubesse a ele, Correa Pinto, seria herdada pelas irmãs do mesmo, a saber: Maria de Souza e Thereza de Souza (moradoras na freguesia de Santa Maria de Geral de Lima) e por falecimento de alguma delas a parte que tocasse a cada uma ficaria pertencendo em igual parte aos seus respectivos filhos. Caso a esposa não casasse novamente poderia usufruir livremente do total dos bens do casal e só por sua morte é que se faria a repartição dos bens na forma referida. Dentre os seus bens, Correia Pinto declarou possuir duas fazendas (não cita os nomes nem onde se localizavam), gado vacum e cavalar, e escravatura, assim como possuir débitos e créditos constantes nos livros próprios de controle dos mesmos. Da parte que lhe tocava dos bens de seu casal o Capitão Mor Regente deixou liberta a escrava Adriana mulata, filha da escrava Rita. Para seu sobrinho Antonio Jose de Miranda que com ele viveu algum tempo em Lages o Capitao Mor deixou 100 éguas para auxiliar nos primeiros tempos em que seu sobrinho estivesse se estabelendo como criador na Vila de Lages. Nomeou seus procuradores, para cumprimento do que determinasse sua testamenteira, em Lages : Jose Pereira Crasto e Bento Manoel de Almeida Paes, e na cidade de São Paulo: Capitão Manoel Antonio de Araujo, Sargento Mor Antonio Rodrigues de Oliveira, e Jeronimo Martins Fernandes.
[4] Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica, 1640-2012," images, FamilySearch (https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-16050-54664-65?cc=2177299&wc=M97B-12X:n1404711860 : accessed 20 Jun 2013), São Paulo > Arquidiocese de São Paulo, Parte B > Dispensas matrimoniais 1759 vol 469 > image 4 of 125.
[5] "Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica, 1640-2012," images, FamilySearch (https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-14863-93468-6?cc=2177299&wc=M97B-YNK:n1495274279 : accessed 21 Nov 2013), Santana de Parnaíba > Santa Ana > Matrimônios 1759, Jun-1790, Fev > image 9 of 201.
Bom dia
ResponderExcluirDeverá escrever Geraz do Lima e não Gerais ou Geral do Lima.
Atentamente,
Luis Moura Serra
Muito interessante. A família de meu pai é Correa Pinto e da região que vai do Porto a Lamego.
ResponderExcluirFantástico o resgate de tais fontes.
ResponderExcluirmuito importante os dados fornecidos sobre o fundador de Lages-SC.
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