Inventários Lageanos (II) Januário Garcia Leal
O texto abaixo reproduz parcialmente o Inventário de Januário Garcia Leal, autuado na Comarca de Lages, SC, no ano de 1808. O Processo de Inventário encontra-se atualmente sob a guarda do Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina
Comarca de Lages - COD. 10
CAIXA 55
02. 1808 - Inventário.
Falecido: Januário Garcia Leal (Capitão).
Fls.1
"Inventário dos bens do Cazal o fallecido o Capitam Januario Garcia Leal - que manda proceder o Juis de orfaons o Capitam Joaquim José Perreira".
Autuação:
22/05/1808, "Villa de Nossa senhora dos Prazeres das Lages Comarca de Paranagoa onde se achava presente o Juis de orfãos o Capitam Joaquim José Pereira Comigo Escrivão de seu cargo adiante nomeado e Vindo ahi para efeito de se fazer um enventario nos bens do fallecido digo nos bens que ficaram por fallecimento do capitam Januário Garcia leal Cujo emventario se procedeo Em virtude do mandado que segue adiante e Em virtude do mesmo Autoey e tomei Cujo hé o que adiante se segue de que de tudo para Constar fis este termo de Autoação Eu Francisco José de Santana e Souza. Escrivão de orfãos juramentado que a Escrevi (assinado: Souza).
Fls 1-v 22/05/1808, Villa de Lages.
Termo de juntada, no Cartório "me foi entregue o Auto de Corpo de delito feito por fallecimento do capitam Januário Garcia leal (...)". Escrivão Francisco José de Santana Souza.
Fls2 18/05/1808
" O capitam Joaquim José Pereira Juiz Ordinário e orfaons nesta Villa de Nossa senhora dos Prazeres de Lages, com alçada no ccivel e crime por Eleição na forma da lei. Mando ao Escrivão que perante mim serve que visto este meo mandado indo por mim assignado e seo comprimento e forma de elle vá.Como alcailde deste juizo ao lugar chamado lava tudo onde consta morrera violentamente o Cap.am Januário Garcia Leal que vinha vindo da Villa de Laguna com hua carregação para deixar nesta Villa e ali fara auto de Corpo de delito pa servir no conhecimento a cauza da sua morte exzamiando as feridas e machucaduras que tiver e logo passara a fazer hum Enventário de todos os seos bens mandando para esso ovir as pessoas que o acompanhavão para se por tudo em seguro deposito the que seos herdeiros venhao prcurar seos bens, visto ser homem de diferente districto e Capitania dado e passado nesta sobredita Villa aos dezoito dias do mes de maior de 1808 Eu Francisco José de santana e Souza Escrivão juramentado que a Escrevi".
Fls 2 e 2-v Auto de Corpo de Delito datado de 19/05/1808, "Villa de Nossa senhora dos Prazeres de Lages, comarca de Paranagoa (...) “em cazas de morada de Matheos José de Souza onde eu Escrivão adiante nomeado fui vindo com o Juiz ordinário o Capitam Joaquim José Perreira e vindo alli para o efeito de se fazer este Auto por se ter vindo dar parte ao dicto Juis ordinário de que no dicto lugar lava tudo morrerâ o dito Capitam de um dezastre porque indo a sercar hum cavallo que se axaiva a pular hua porteira de varas ao tempo que o cavallo. Avançou a dita porteira enControu com o dicto Capitam hua das varas da porteira e dando lhe pela orelha direita imediatamente o matou com a pancada e passando o dito juiz mandado para vir o alcaide comigo Escrivão a aquelle lugar fazer auto de corpo de delito enContramos o corpo do dito capitam que se vinha conduzindo para esta villa pouca légua fora da dita Villa e por isso ali bamos cecegando nesta dita casa de Matheus José de Souza onde se recolheu o corpo. Se fez então em presença do dito juiz o Exame e vemdo com efeito se achou somente hua ferida na orelha direita que partia ao meio a orelha e o queixo todo quebrado. Sem mais outro sinal algum e sendo perguntado pello juis a Francisco Eloi de Souza que se havia em sua prezença suen diara? (presenciara?) o Caso disse elle como testemunha por lhe ser primeiramente deferido o juramento dos
Fls 3
Santos Evangelhos para dizer a verdade do que soubesse e lhe foi perguntado dice que indo elle testemunha laçar hum cavallo no dia dezesses do presente mês de maio por mandado do fallecido capitam Januário Garcia Leal indo o cavallo a voltar a porteira correo o dito Capitão a cercar no mesmo tempo que o cavallo avançou a porteira levou a vara adiante e em contrando com o dito Capitão. Deolhe pella orelha e logo ali cahio morto e mais não disse e sendo perguntado ao Escravo do dito fallecido por este cazo disse o mesmo que disse a testemunha supra e o mesmo disse Antonio Rodrigues debaixo do mesmo Juramento dos santos Evangelhos que se achou presente quando aconteceu este cazo e de como assim o dicerao mandou o juis fazer este auto em que assignou e com elle as testemunhas com sua Cruz de que dou fé.Eu Manoel digo Eu Francisco Joce de Santana Souza Escrivão juramentado que Escrevi".
(Assinaturas) EScr.vam Joze Sza
Signal de Cruz + de Franco Eloi de Sza (capataz do falecido)
Signal de Cruz x de Antonio Roiz
Signal de Cruz x do Escravo Antonio do fallecido Capitam Januário
"Auto de vestoria e exzame e abertura nas canastras do fallecido
E logo no mesmo dia e mês exaxct supra nesta mesma Villa e na mesma casa....onde se achou dentro delas o seguinte
- Hum couro de Lontra
- Hua ....(?)
- Hum martelo
- Hua verga de aso campera de três coartos
- Hum ...(?)
- tres sobellos
- hum compaço
- hua quarta de baeta azul
- duas talhadeiras
- duas virumas
- Hum sipilho
- Hum didal de fazer couro
- Treze fivellas de sella
- Dois cravadores
- Hum passador
- Sincoenta pregos
- Em dinheiro em hua bolça mil sento e secenta reis
- Hum ... (?) em bom uso
- Hua manta de lam uzada
- Hua panella de ferro em bom uso
- Hua folha de serra de mão
- Dezoito libras de algodão em coraço com hum saco
- Hua fivella de prata de pescolinho(?)
- Hum par de ligas de galoi de ouro
- Hum jaleco de cacimira amarella espiquilhado de ouro
- Hua vestido de pano fino xedos (?)
- Duas calcas de pano fino uzadas
- Hum jaleco de de pano azul velho
- Hum dito de musseulina em bom uso
- Hua seroula de linho nova
- Hua pessa de canga
- Hua vestia de pano azul
- Duas camizas de bertanha em bom uso
- Hua dita de linho rasgada
- Hua lima pequena de três quinas
- Duas agulhas de fardo
- Hua aqulha de atalhar cancalhas
- Dois escopolos hum largo e hum estreito
- Hum machado novo
- -hua enchada
- hua escova
- duas esporas de prata velhas =cantinellos (?)
- Hum par de estrivos de meia picaria
- Hum par de botas uzadas
- Hum babado de lam broeita
- Hum prato des tanho fundo velho
- hua toalha de algodão uzada
- hua sinta de algodão nova
- hua meada de fio de sapateiro
- hum barrete de retrós
- dois lençóis de algodão fino velhos
- dois lenços vermelhos novos
- duas calças de riscado em bom uso
- três oitavas de retrós azul
- dois quartos De baeta novos
- quatro dúzias de botoins amarelos de casquinha
- quarenta varas entre linho e riscado co riscado sai
- sinco varas de riscado
- e mais nada tinha em ditas canastras
(...)".
Fls 4: "E no mesmo dia (...) foiçou Francisco Eloi de Souza, camarada do fallecido que acompanhava a elle e Antonio preto Escravo do dito falecido e Antônio Rodrigues camarada do mesmo fallecido para declarar os bens do falecido
- 5 mulas mancas
- 3 cavallos maços
- Sete Éguas e um Pastor
- 1 vaca mansa com cria em poder do filho de Matheus José de Souza de nome Mateos
- 1 novilha com cria em poder de Izidoro Escravo do capitam Joaquim Joce Perra.
- 8 bestas chucras
- hum coxonilho em poder de Manoel Joaquim do Rego
- 5 couros de vaca em poder de do Pontes
- 15 alqueiress de feijão em poder de Aurélio Antônio
- 1 couro de Leão em caza de Manoel Joaquim do Rego
- três aliotos (?)
- Três ligores (?) Velhos
- Hua marca de ferro de marcar animais
- 1 couro de tigre pintado em bom uso
- duas cargas de sal de algr.re cada hua
- 3 cangalhas em bom uso
- hua panella de ferro em poder do Negro Thomas escravo do capitam Joaquim José Pereira
- hua espada com punhos de aço e guarnições de prata
- Hum par de canastras com fexaduras
- Nove bestas chueras na freguezia da Vacaria em poder de Jocé Joaquim
- Oito Éguas chucras
- Hum cavallo manco pastor das ditas Egoas em a villa de Itapeva em poder de Manuel Lourenço
- Sessenta parelhas de couro de veado em poder de Jocé Maria na frequesia da Vacaria
E nada mais declarou os ditos Enventariantes e declararam deverem ao dito fallecido Capitam Januário Garcia Leal o seguinte:
- O Tenente João Baptista da Silva Costa hua mula manca
- Elena de brito quatro mil seiscentos reis digo vinte Reis (4$020)
- Franca Escrava de Antonio da Pontes Correa como consta do Bilhete numero 3 (1$220)
- Antonio Francisco Antunes 22 couros de veado a 200 (4$400)
- Miguel Antunes 53 couros de veado (10$600)
- Aniceta 6 couros de veado (1$200)
- O Tenente Caetano Francisco Perreira de resto como conta do bilhete n. 2 (16$400)
- Matheus José de Souza como consta do Beilhete n. 5 (16$280)
- José Castelhano capataz de bom juce co. do bilhete n.7 (1$360)
- Vitorino Antonio de duas cargas de sal de alqueire caga hua – o filho do dito Vitorino de nome Manuel de hua cales? (2$000)
E logo declararam que devia o dito falecido o seguinte:
- A José Joaquim da Vacaria dois mil reis e seis varas de algodão (3$920)
- A João Manoel (7$330) reis
- A molher de Ignácio da S. Ribro de hua vaca manca (4$000)
- A molher do Capitam Pedro da S. . Ribro 640 reis
- Ao cabo Francisco da As Guimarains 5$120
- Na Ilha de Santa Catarina ao tenente Caetano Fraco por um credito 40$000
- Ao Escravo que foi do dito falecido de nome Antonio 2$925
- Ao Alferes Antonio Rodrigues Fam de quintos, nove mil reis 9$000
- Ao Capitam Joaquim José Perra de caixam, pregos, taboas e feitio do mesmo caixão e duas varas de algodão para forro e dois côvados de baeta preta com xiste para cobrir o caixam 4$480 reis
- Ao Capitam Manoel cavalheiro leitão 1$920
- Ao Capitão Jocé Antonio Tavares na Vila de Laguna por carta de abono do Capitão Manoel Cavalheiro leitão 26$950
Fls 16 18/05/1808 Nomeações:
- Depositários: Antonio da Pontes Correa (jurou em 19/05/1808- (tem a assinatura: Corr.a)
- Avaliadores Manoel Ferreira Pisco e José da Silva Pinto (juraram em 19/05/1808 e constam as suas assinaturas no Processo).
O Objetivo deste Blog é divulgar artigos e documentos interessantes para a história de Lages e para a história e genealogia das famílias dos seus primitivos povoadores.
[As publicações deste Blog podem ser utilizadas pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte: KOTCHERGENKO, Tânia Arruda. Nome da postagem in blog Lages Hístórica, Disponível em http://lageshistorica.blogspot.com.br]
26 de agosto de 2009
Inventários Lageanos (II) Januário Garcia Leal - O Sete Orelhas - Parte I
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Pelo que se tem de tecnologia atualmente, da análise do material colhido - o inventário - seria impossível comprovar que estas anotações foram feitas em maio de 1808 e não fruto de uma falsificação posterior.
ResponderExcluirPrezado Sr. Anônimo,
ResponderExcluirO Inventário possui elementos suficientes para viabilizar análises de autenticidade, pois além do conteúdo manuscrito possui também o original da Carta Patente do Capitão Januário contendo o selo de armas do Governo da Capitania de Minas Gerais, e diversas assinaturas, inclusive a do próprio Capitão Januário, em Carta de Alforria que concede a um escravo. Os autos se encontram à diposição dos pesquisadores no Museu do Judiciário Catarinese.
Olá Tânia,
ResponderExcluirmeu nome é Clara Garcia, sou estudante de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Estou pesquisando a respeito de Januário Garcia Leal e tenho visto seu nome em fontes que têm sido de grande ajuda para a execução da pesquisa. Gostaria até mesmo de agradecê-la por isso. Gostaria de saber se esse inventário digitalizado poderia ser enviado a mim. Se possível, gostaria também de informações a respeito dos nomes dos filhos de Januário. Meu email é: claragcs@hotmail.com
Parabéns pela iniciativa de postar estas e informações em um blog!
Grata pela atenção,
Clara
Olá Tania,
ResponderExcluirMe chamo José Osvaldo Garcia Leal, resido em Vargem Grande do Sul/SP. Pesquiso sobre os Garcia Leal a muitos anos e tenho um bom acervo. O Irmão de Januario o Sargento Mor José Garcia Leal é considerado um dos fundadores de minha cidade. Esse caso de Januário não poderia ter sido uma farça ??
Vc não acha um acidente estranho ???
meu e-mail: osvaldo.leal@terra.com.br
Olá Tania!
ResponderExcluirSou jornalista e advogada em Itu SP e por pura curiosidade comecei a pesquisar os Garcia Leal já que meu pai sempre contou essa história do Januário quando eu era criança e eu então achava que era invenção dele só pra me assustar...
Bom, fui pesquisar e encontrei farto material. Mas o mais legal é esse que vc disponibilizou.
Gostaria de saber mais, por exemplo, sobre como e pq ele foi parar em SC e o nome da esposa e filhos dele. Vc tem essas informações?
Agradeço muito.
Meu e mail é malugarcia@revistaqui.com.br
Um abraço e obrigada.
Malu
Na epoca lajes fazia parte da capitania de sp, que pouca gente sabe disso.
ResponderExcluirMinha mulher tem a honra de ser garcia leal descendente direta do joão garcia leal de cuja morte seu irmao januario vingou,
há uma grande geanologia publicada sobre estes pioneiros do mato grosso do sul,
a Wikipedia´traz boas informações qto a familia de januario garcia leal
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